Milho: de vedete a vilão

24/12/13

Num intervalo de uma safra, cereal foi da euforia à depressão e volta à ‘figuração’

Depois de ensaiar por duas safras seguidas, o milho estourou no ciclo 2011/12. Fez sucesso em volume, em produtividade, em preços e até desbancou a soja e liderou as exportações mato-grossenses do primeiro trimestre deste ano, refletindo o bom momento de 2012, quando deixou de ser coadjuvante no agronegócio mato-grossense. Ainda durante este ano, o cenário do milho seguiu marcado por recorde produtivo, mas pesaram os preços baixos e gargalos logísticos no Estado. Os baixos preços de 2013 reduziram a margem de lucro do produtor, desestimulando a produção de milho do próximo ano. O sucesso custou caro.

A análise do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostra que de forma geral, as lavouras de milho apresentaram-se com bom desenvolvimento na safra 12/13. “Devido à presença de chuvas favoráveis em praticamente todo o ciclo da cultura, os resultados foram favoráveis dentro da porteira. O Estado cultivou 3,7 milhões de hectares, apresentando altas produtividades, com média de 102 sc/ha, impulsionando o recorde produtivo de milho para um total inédito e impensavél de 22,53 milhões de toneladas. Com essa produção, o Estado tornou-se o maior produtor nacional de milho na safra 2012/13”. No entanto, como apontam os analistas do Imea, o problema ocorreu fora da porteira. “Devido à pressão da superoferta interna e mundial, os preços do cereal despencaram no Brasil e no mundo. O Estado encerrou o ano com média de R$ 13,72/sc. As baixas cotações foram sentidas também na comercialização do produto. O ritmo das vendas antecipadas foi reduzido”.

Na tentativa de sustentação do preço do cereal e garantia de escoamento para aliviar a pressão da grande oferta, o governo federal realizou os leilões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro), que comercializou 8,36 milhões de toneladas de milho mato-grossense. Outro problema registrado devido à superoferta do milho no Estado foi a falta de uma boa logística, que acabou se revelando uma grande preocupação e um entrave ao mercado do milho, que sentiu o peso pelas perdas de competitividade. Apesar dos entraves - a forte demanda mundial, somada à superprodução - impulsionou as exportações de Mato Grosso, que registrou os maiores volumes de embarques na safra 2012/13.

MERCADOS - As cotações do milho iniciaram o ano com médias elevadas, tanto em Chicago como em Mato Grosso, ainda refletindo a pressão da oferta restrita dos Estados Unidos na safra passada. No Estado o milho chegou a custar R$ 20/sc em fevereiro. Já próximo do meio do ano, as cotações do cereal em Chicago se mantiveram elevadas. No mercado interno, porém, as cotações despencaram para cerca de R$ 12/sc, com a expectativa de safra recorde em Mato Grosso. Já no segundo semestre do ano, o preço do cereal se reduziu tanto em Chicago como no mercado interno, com a confirmação das safras recordes norte-americana e mato-grossense. Os preços internos começaram a reagir apenas no início de novembro, quando o escoamento do milho, em reflexo dos leilões de Pepro, fez os preços domésticos se descolarem de Chicago.

PERSPECTIVA – É esperada para a próxima safra uma área cultivada com o milho 12,26% menor que em 2013, próxima a 3,25 milhões de hectares e uma produção também menor, estimada em 17,08 milhões de toneladas. O recuo da produção ocorre não só pela redução da área, mas, sobretudo, pela queda da produtividade. Devido ao aumento no custo de produção da safra 2013/14 e a redução da margem de lucro do produtor em 2013, os investimentos nos tratos culturais do milho serão reduzidos.

Apesar do recuo na produção, a oferta do cereal ainda terá volumes consideráveis, tanto em Mato Grosso como no mundo. Mesmo com projeção de demanda aquecida esta poderá não ser suficiente para absorver toda a oferta do cereal.

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