Qual o cenário para o dólar?

Câmbio

Qual o cenário para o dólar?

Nossa estimativa para a taxa de câmbio de médio prazo é algo em torno de R$ 3,40/R$ 3,50. Entendemos que a moeda norte-americana deve manter a tendência estrutural de valorização. Temos recomendado a compra de dólares contra o real desde a marca de R$ 1,90 e reiteramos a perspectiva em prol de um câmbio mais alto.

A combinação de necessidade de redução do programa de fornecimento de liquidez nos Estados Unidos a médio prazo com problemas crônicos da economia brasileira referenda a tese de desvalorização do real.

Obviamente, não se supõe, nem de perto, uma trajetória linear nessa tendência de alta para o dólar. A caminhada rumo ao intervalo de valores esperado, caso confirmada, será acompanhada de muita volatilidade e idas e vindas. Um overshooting (repique) – que ocorre quando um ativo passa do seu equilíbrio – pode levar o dólar a R$ 4,00.

A tese passa necessariamente pelo monitoramento do balanço do banco central norte-americano. Estamos claramente numa situação extrema. O passivo do Fed marca mais de US$ 4,5 trilhões. Eram US$ 800 bilhões em 2008. Cedo ou tarde, precisaremos retirar os estímulos monetários e reduzir a farra de liquidez. Se em 1929 salvou-se a moeda em detrimento da economia, agora não pode marcar o salvamento da economia em detrimento da moeda. A contrapartida será a apreciação da moeda.

Em adição, há a crise grega, com o cenário de default e saída da Grécia da Zona do Euro. A proximidade de um acordo é um respiro, mas a situação ainda é incômoda. Uma maior tensão provoca nos mercados a busca pela maior qualidade (“flight to quality”), encontrada na figura do dólar, o que também contribui para sua apreciação.

Teremos óbvia diminuição da liquidez internacional nos próximos trimestres e isso joga em favor do dólar, com implicações óbvias sobre o juro de 10 anos dos Treasuries e, por conseguinte, sobre o apreçamento de todos os demais ativos de risco. Em 2011, por exemplo, o yield das notas de 10 anos do Tesouro norte-americano era de 3,6%. O prognóstico é de que caminhemos para patamares mais próximos à média histórica conforme haja recrudescimento das condições de liquidez.

Como argumento a dinâmica de mercado empurra o rendimento dos Treasuries para cima , trazendo implicações importantes não somente para o real, mas basicamente sobre todas as moedas emergentes, como por exemplo moedas brasileira, indiana e russa.

O caso brasileiro, porém, é particularmente delicado. O real é uma moeda exótica. Enfrenta volatilidade mais alta e eventos raros (aqueles cujos retornos são superiores a dois desvios-padrão da média) com frequência superior ao usualmente observado.

Além disso, Brasil é proxy de commodities. No caso de confirmar-se a esperada recuperação da moeda norte-americana, as matérias-primas tenderiam a perder força, deteriorando os termos de troca por aqui.

Do ponto de vista macro, temos ao menos cinco fatores apontando para a fragilidade adicional da moeda doméstica:- Inflação elevada: a alta dos preços tem rodado na casa de 9% ao ano. O nível de preços é o inverso do valor da moeda. Ou seja, inflação forte significa moeda fraca.

- O PIB cresce pouco: fechamos 2014 com crescimento 0,1% e o prognóstico para 2015 é de queda de 2%. Há um esgotamento do modelo de crescimento baseado em consumo.A demanda agregada caminhou muito à frente da oferta agregada. A recuperação passa necessariamente por maior vigor dos investimentos, e isso não é um fenômeno de curto prazo. Economia fraca significa moeda fraca.

- As contas públicas estão desequilibradas e sua recomposição tem se mostrado especialmente difícil, tanto pela fraqueza da receita num ambiente de recessão quanto pelas dificuldades de aprovar no Congresso novas medidas.

- O déficit em conta corrente só faz aumentar: o saldo negativo de transações com o exterior flerta com 5% do PIB e acende o sinal amarelo. Cada vez mais, estamos dependentes do Investimento Estrangeiro Direto, que é uma variável sensível às condições de liquidez internacional.

- Há dúvida quanto à manutenção do ritmo de intervenções do Banco Central brasileiro sobre o mercado de câmbio. A nova equipe econômica do governo acena para ajuste fiscal, desrepresamento de preços e menor nível de intervenções.

Fonte: http://www.empiricus.com.br 

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